Monday, January 18, 2010

Anubis




Do sonho aos poemas, e destes a uma raiz ancestral.

A Sombra com os seus Cães

Chega de manhã cedo
não bate à porta
é uma Sombra discreta
na mão o cesto das compras
e na trela os seus dois cães

não gosta de discutir
anda muito devagar
sem ajuda sobe a escada
até ao último andar

- Diz-me o que são esses cães
que te acompanham
te guardam
esses cães que tu não deixas
e que também não te largam
não estão presos
mas não fogem

- São cães do sono profundo
nascem na treva sagrada
naquela prega do tempo
onde se esconde o futuro


Segundo Jung não haverá coincidências, mas fenómenos de sincronia que se tornam especialmente carregados de sentido para quem se detenha neles. Pode tratar-se de um sonho, da interrogação contida num poema e neste caso da resposta que se procure encontrar. Por vezes nada sucede. Fica a pergunta, outro tempo virá em que a resposta surja.
Aconteceu que uma vez escrito o poema, e dada a sua ligação a um sonho determinado, que os primeiros versos descrevem como acto banal de um dia aparentemente como os outros - me vem à mão o Livro Egípcio dos Mortos na edição francesa de Albert Champdor que contém os papiros de Ani, de Hunefer, de Anhai, actualmente guardados no Museu Britânico.
Uma verdadeira colecção de rituais iniciáticos, alusivos ao percurso que a alma teria de fazer depois da morte, conduzida pelo deus-cão Anubis até ao lugar do Juizo Final.Nesse lugar a sua alma seria pesada numa balança que num dos pratos teria a pena da deusa Mâat e só se os pratos se equilibrassem obteria a alma a salvação desejada, podendo encaminhar-se para o jardim do Éden, onde a vida continuaria saciada e feliz.
Anubis, o Guia dos Caminhos, é simbolizado por um cão (pode ainda ser cão-chacal ou cão-lobo) e é ele que permite a revelação da Luz, depois da cerimónia mágica da "abertura dos olhos" .
Esta bela edição, que reproduz e transcreve, como se de uma banda desenhada se tratasse, os papiros encontrados em finais do século XIX, oferece ao estudioso, tanto como ao simples curioso, muita matéria de alimento para a sua imaginação.
No antigo Egipto o Livro dos Mortos, que em papiros ou em frescos nos túmulos acompanhavam a alma do defunto, era parte integrante de um ritual iniciático sem o qual a alma ficaria abandonada, perdida num submundo assustador.
A sua leitura hoje em dia, numa sociedade laicizada, pode ajudar a entender alguns dos fantasmas que ainda nos habitam, com os seus sonhos, as suas premonições.
As almas, de outrora como de agora, pedem um guia.

Completando, com um último poema:

Caiu a noite:
Isis vem aí.
Bateu à porta
é preciso abrir

5 comments:

Ariete Nasulicz said...

... a sincronicidade de suas palavras, como respostas para as minhas dúvidas e situações vividas, são impressionantes...

Carla Ferreira de Castro said...

É uma alegria ver que os seus blogues continuam activos e se recomendam! Obrigada
Bj
Carla Castro

Yvette Centeno said...

Querida Carla, e tu por onde andas?
Beijos a todos, neste 2010!

Dennys Robson Girardi said...

Muito bom o Blog.
Estudo Idade Média e a Simbologia medieval. Visite: dennysgirardi.blogspot.com

Abraço,

Dennys

Átila Siqueira. said...

Achei muito interessante essa postagem sobre o ser mitológico anúbis.

Adoro esses temas.

Um grande abraço,
Átila Siqueira.